Tantas vezes revisitamos nossa criança interior e nos pegamos com medo do escuro. Só que dessa vez não são os objetos do quarto que nos assombram, mas o que vai bem fundo e a gente nem sabe o que é, só sente um aperto no peito ou uma dor no estômago.
Às vezes ganham formas de pensamentos e perambulam insistentes pela nossa mente. Difícil descrever, identificar, nomear. Só sabemos que incomodam e limitam e chega um tempo que não queremos mais!
É quando a nossa criança interior, aquela parte de nós que sabe o que viemos fazer aqui, mais uma vez nos dá a mão e nos ensina que para acabar com o medo do escuro é preciso acender a luz do quarto, olhar atentamente os objetos, reconhecer seus lugares e formas. Dormir vários dias com a luz acesa.
Até que um dia o escuro se torna apenas a outra face do mesmo quarto, reconhecível e familiar! O mesmo lugar onde a criança adora brincar e se sente segura. E se, mesmo assim, vez ou outra o medo ainda bate, agora ela sabe que é só acender a luz e nem o escuro nem o medo a dominam mais.
O autoconhecimento é o olhar nos próprios olhos e acender a luz do quarto, reconhecendo ali pensamentos, emoções, sentimentos. Gosto de dizer “nomear os sentimentos”.
Todas as experiências que vivenciamos e também tudo o que “herdamos”, individual ou coletivamente, são importantes e fazem parte da nossa história de crescimento e transformação. A forma como essas experiências são psiquicamente interpretadas criam um sistema de crenças que passam a ser o nosso referencial de ação e reação diante das situações da vida.
Muitas delas nos enriquecem e nos fazem criar referenciais mentais e emocionais extremamente conectados com nosso âmago, com o nosso “Eu Superior”. Ao nos abrirmos para observar e conhecer a fundo nossos sentimentos, nossas emoções e todas as "verdades" que criamos, vamos promovendo o fluxo natural da nossa energia criativa, ou seja, vamos agindo, manifestando toda a nossa potencialidade no mundo e construindo uma realidade mais afinada com os propósitos da nossa Alma.
Outras tantas experiências são interpretadas como negativas e criam sistemas de crenças que podemos chamar de limitantes. Esses padrões negativos de comportamento/reação nem sempre são conscientes, bloqueiam nosso potencial criativo e impedem mudanças significativas em todos os níveis da vida, sejam profissionais, afetivos, espirituais. Já sentiu aquela sensação de que o mundo está contra nós?
Quando vivenciamos situações que se assemelham à experiência que deu origem àquelas crenças, sejam positivas ou negativas, no sentido também de possuírem a mesma frequência energética, é como um gatilho que faz com que nossa leitura mental e a nossa resposta emocional acessem aqueles padrões criados.
Sendo as referências positivas, ok, liberam o fluxo dos acontecimentos e nos permitem seguir em frente com garra, mas leveza. Quando são negativas, destrutivas para nós mesmos, é como querer correr com uma bola de ferro amarrada aos pés. Sabe aquela sensação de ter que matar um leão por dia pra coisa dar certo e mesmo assim não ser suficiente?
Como podemos mudar algo que nem sabemos o que é? Só sabemos que não está bom. Então observar e reconhecer as nossas formas de reação e de comportamento diante de algumas situações da vida é o primeiro passo para uma mudança. E depois? Depois é colocar em prática Não existe receita. Cada pessoa vai se afinar com um jeito para entrar em contato com seu silêncio interno e fazer as mudanças necessárias.
Podemos receber ajuda e apoio para iniciar e fortalecer a caminhada, mas a certeza é que somos os únicos responsáveis pela nossa própria transformação. Não dá pra reivindicar isso do outro ou esperar dele a mudança que couber a nós.
Descrevo o que vivo em meu processo pessoal de autoconhecimento e também como terapeuta integrativa. Alguns aspectos do que podemos observar em nossa vida que se assemelham ao “acender a luz do quarto para reconhecer o que tem ali.” Reconhecer nossos padrões reduz a dominação que eles exercem sobre nós e abre espaço para as mudanças necessárias.
Para mim o autoconhecimento passa pela auto-observação. Sair do “piloto automático” e se colocar presente e consciente diante da rotina, dos hábitos e das situações previsíveis ou inesperadas. Não apenas mergulhar no mar infinito das sensações que nossos pensamentos e emoções nos causam, mas identificar seus nomes, quando aparecem e como vão embora. É acolhê-los em presença e consciência como parte de nós.
Algo como: “opa! Olha meu medo de ficar sozinha se manifestando de novo” ou “olha eu projetando minha relação com meu pai nessa bronca que ganhei do meu chefe”.
E mais, uma vez reconhecidos, nomeados, identificado esses padrões, a efetiva transformação é feita na ação, agir de acordo com as novas formas de pensar e sentir que vão emergindo em nós. É comum falarmos “eu sei disso, mas chega na hora não faço”!
Esse é mesmo um processo das pequenezas, de mudar hábitos, rotinas, de ir quebrando um a um os elos das correntes que nos prendem.
O autoconhecimento é um processo para a vida, mas estando cada vez mais conscientes, conseguimos vivenciar as situações com mais leveza, resiliência e saúde em todos os níveis.
Talvez começar por observar esses aspectos ajude você a mapear e identificar alguma coisa que queira e precise mudar:
1. O corpo não fala, ele grita! Ouça!
Tantas vezes a rotina nos engole, não é mesmo? Às vezes temos uma dorzinha aqui, outra ali e não paramos para observar, para ouvir o que o corpo tem a nos dizer. O corpo é veículo material de intercâmbio entre a nossa mente e nossas emoções e o mundo exterior. Mesmo que não estejamos conscientes, ele manifesta o que pensamos e sentimos.
Então, como está seu corpo agora? Como você está respirando? Inspire e expire tranquilamente pelas narinas e observe quais músculos estão contraídos, há alguma parte do seu corpo que está apertada, dolorida? Consegue identificar qual órgão ou parte do corpo está desconfortável? Pode descrever a sensação? São dores agudas (intensas e recentes) ou são crônicas (amenas, mas constantes)?
Mesmo que haja uma doença instalada e você esteja em tratamento procure saber o conteúdo emocional relacionado ao órgão ou à doença em si. Em que momento da sua vida começou, quando fica mais intensa e o que a alivia?
Observar e estar consciente do corpo, das expressões, da postura corporal que você assume em diferentes situações da vida, da respiração e das mudanças que o corpo manifesta quando passamos por situações de ansiedade, medo, tristeza, sobrecarga, estresse é a forma primeira para reconhecermos o que se repete, o que limita ou o que expande nossa expressão positiva no mundo.
2. Parece que sou vítima de pessoas e situações!
Partimos da ideia de que somos seres espirituais vivendo uma experiência material nesse planeta. Do ponto de vista quântico, somos seres de energia, quer dizer que nosso corpo físico e toda a matéria são energia em sua forma mais densa. Emitimos e absorvemos energia. Estamos envolvidos num campo eletromagnético. Nossos pensamentos e emoções são energia e como tal possuem uma vibração, uma frequência.
Você já se pegou dizendo “nossa, eu sou uma pessoa boa, tranquila, faço o que tenho que fazer, mas sempre tenho que lidar com pessoas nervosas, agressivas, mal educadas.”? Porque essas situações sempre se repetem na minha vida? E bate aquela vitimização insistente!
Perceber isso é um convite para observarmos o que guardamos por dentro. Quais gavetas emocionais nunca arrumamos? Quais trancamos e perdemos a chave? Se você enfrenta recorrentemente situações que te ferem emocionalmente, causam ansiedade, raiva, medo pode ser uma oportunidade de fazer aquela arrumação na casa, há tempos adiada!
É mais ou menos como vigiar um buraco e sempre cairmos nele. No decorrer da sua vida, quais as situações se repetem? Consegue identificar, dar nome ao que você sente e perceber como você reage quando isso acontece?
Quando identificamos o que estamos refletindo para o mundo e agimos para transformar essa relação com a gente mesmo, emitimos energia em novas frequências vibratórias e deixamos de atrair situações compatíveis com as frequências anteriores. Criamos uma nova realidade. Conseguimos com mais facilidade nos desvincular de pessoas e situações que não estão em ressonância com o que agora vivenciamos.
É claro que não é passe de mágica, mas se isso me incomoda, limita, entristece, por que não começar?
É um trabalho diário e extremamente recompensador, porque embora possam ainda acontecer, essas emoções, sentimentos e os pensamentos já não nos dominam mais.
3. Autoboicote e Síndrome da Escassez
Sabe aquela pessoa que inicia um novo projeto pensando em um plano B? E não é uma questão de planejamento, não, lá no fundo ela acredita mesmo que não vai dar certo, porque as coisas são assim, se estiver bom demais, é porque alguma coisa vai dar errado!
Há também quem coloque uma dificuldade enorme para fazer alguma coisa, por mais simples que seja. Tudo parece muito complexo, muito complicado e, sem dúvida, a chance de dar errado é grande!
Ou então aquela pessoa que trabalha, trabalha, trabalha, mas parece que nunca é suficiente, que sempre vai faltar, mesmo que a economia esteja boa, os negócios estejam fluindo, ela tem “certeza” que tudo pode mudar e ela terá problemas financeiros. Provavelmente as coisas darão errado mesmo, exatamente como a pessoa “previu”!
É claro que estamos generalizando, mas quando identificamos que esses padrões são muito repetitivos em nosso comportamento e estamos nos sentindo mal com isso, talvez seja um convite da Alma para percebermos o que realmente faz sentido pra gente, do que realmente precisamos e, principalmente, cair a ficha de que já SOMOS e é preciso agora viver essa nova “verdade”.
4. A herança familiar
A ancestralidade faz parte da nossa memória genética, o gene físico que se materializa a partir do DNA energético. Não é apenas um padrão biológico, mas vibracional. As famílias sustentam os padrões que se manifestam individualmente.
Não estamos falando de determinismo, mas de oportunidade de perceber e mudar o que for preciso para viver livre e leve.
Energeticamente, quando quebramos um padrão também afetamos todo o sistema familiar, no passado, presente e futuro. É como um efeito dominó, já que a energia movimentada pela mudança não conhece tempo e espaço, ela simplesmente reverbera em toda a teia. Quando nos libertamos, libertamos a todxs.
Perceba nos seus familiares: como vivem, as situações emocionais, financeiras, as doenças, como envelhecem. Perceba os padrões que existem neles e em você. O que você está repetindo mesmo sem querer ou mesmo tendo até se afastado da família?
E veja: isso não é “culpa” deles! Não existe culpa se estamos todos navegando no mesmo barco do aprendizado. Existe co-responsabilidade e a confiança de que esta vida é uma feliz oportunidade para fazermos EM NÓS as mudanças necessárias. Ninguém muda ninguém, mas o exemplo inspira, motiva e apoia quem quiser caminhar junto. Reconhecer isso é acolher, honrar e muitas vezes se reconciliar com a ancestralidade! É um aspecto profundo e extremamente curativo do autoconhecimento!
Vamos juntxs?!
Podem ter te contado mil histórias tristes sobre a “realidade da vida”, mas a única verdade é a que mora em nosso coração e está em ligação direta com uma Fonte de Amor.
E sabe qual é a mágica? Quando reconhecendo esses padrões negativos eles param de ter poder sobre nós. Acendemos a luz do quarto e podemos brincar à vontade! Quando quebramos esses elos de sofrimento e mudamos a relação com a gente mesmo, isso reverbera nas pessoas e situações à nossa volta. Tudo se transforma!
Estamos em nossa melhor versão e continuamos caminhando para o Amor, então ‘bora desfrutar a vista!
Com carinho,
Dani Rezende
Flor Raiz - Ser e conViver