Uma vez uma pessoa me disse que não gostava de “mexer” com sua parte espiritual porque achava que isso a desequilibrava.
Parece estranho, mas de certa forma ela tem razão! A espiritualidade é algo que mexe com a gente, que sacode os falsos pilares das identidades que criamos para nos proteger e nos afastar de nós mesmos e do mundo.
Inevitavelmente nos questionamos, refletimos sobre o que estamos fazendo da nossa vida, porque começamos a ter consciência de que somos e existimos para além daquilo que construímos até então como nossas “verdades absolutas”.
Num primeiro momento a sensação é de desequilíbrio mesmo, parece que perdemos o chão e nada mais faz muito sentido. Trabalhar pra que? Lutar pra que? Estudar pra que? Amar pra que?
E essa espécie de vazio existencial parece dar início a um big bang de mudanças, porque na verdade esse vazio estava cheio de vida, de um modo de vida que ainda não conhecíamos, ou melhor, que não estávamos conscientes de que sempre esteve ali, dentro de nós.
Às vezes o que dá início a esse processo são mudanças aparentemente externas a nós, a perda do emprego, o fim de um relacionamento, a morte de alguém querido, uma doença grave ou muitas dessas coisas ao mesmo tempo. É um turbilhão de sentimentos e pensamentos que parece que não vamos dar conta. E precisamos de apoio, sim!
Outras vezes, isso vem como um insight, a ficha cai de um jeito que é impossível ignorar e somos tomados por uma vontade louca de conhecer tudo o que é terapia, ritual, culto, igreja, terreiro e por aí vai.
Os caminhos são tantos, porque muitas são as histórias de vida. E todos esses rumos levam ao mesmo lugar: dentro nós mesmos.
É assim, virados do avesso, olhando pra dentro, que damos de cara com a espiritualidade. Um estado de conexão essencial, de pertencimento, de paz, de comunhão, sem nomes, sem rótulos, sem julgamentos. Só Ser.
E se isso parece muita viagem, algo como inalcançável ou demorado demais pra essa vida, então podemos dar de cara com a espiritualidade contemplando um incrível por do sol, mas estando ali por inteiro, se fundindo com aquelas cores e matizes. Ou cuidando de um filho ou fazendo aquilo que amamos e que nos faz perder a noção do tempo e do espaço.
A busca da espiritualidade é um encontro conosco mesmo, com a nossa parcela divina, com a conexão que existe entre todos e cada um de nós, com o Universo e com a Fonte de tudo o que É.
Cada passo que damos conhecendo e transformando a nós mesmos é um encontro com a espiritualidade. Sempre que reconhecemos, identificamos e transmutamos uma crença ou um padrão limitante, mudando a maneira como tratamos a nós mesmo, as outras pessoas, a natureza e o mundo, desvendamos e vivemos um pouco mais da nossa “parte espiritual”.
Toda vez que curamos uma ferida ou entendemos que a culpa é um flagelo autoimposto para perpetuar nosso próprio sofrimento, nos libertando das amarras emocionais que nos mantêm atrelados ao passado e a uma realidade criada pelo Ego, nos encontramos com a nossa espiritualidade, já que conseguimos seguir em frente para realizar os propósitos da nossa Alma.
Quando paramos de varrer pra debaixo do tapete o que pensamos e sentimos e encaramos que temos medo, raiva, tristeza, inveja, ciúmes e buscamos formas de transmutar e canalizar essas energias de um jeito positivo em nossa vida, a espiritualidade está sendo cultivada.
Buscamos saberes, cursos, lugares e pessoas que nos ajudem a mergulhar no mar de infinitas possibilidades que temos para nos conhecer. E quando nos abrimos pra isso os encontros acontecem e tudo é também muito rápido. Mas só nós mesmos temos a chave mestra que abre e restabelece a conexão essencial com tudo o que É e o que Somos.
Tem gente que tem medo de falar em espiritualidade porque atribui a um plano de existência imaterial, onde há os espíritos. Do ponto de vista que falamos aqui, somos todos espíritos ou seres espirituais e nos manifestamos no plano material para vivermos belas e desafiadoras experiências. Somos aprendizes de nós mesmos.
Talvez até agora tenhamos caminhado entre tapas e beijos com o sofrimento e a dor. Mas habitamos um planeta sem igual, cuja energia curadora e curativa proporciona uma oportunidade única para vivenciarmos a reconexão com o Todo e darmos saltos quânticos em aprendizado e crescimento.
Talvez hoje também seja um bom dia para vivermos “menos de doer e mais de doar”.
Por: Dani Rezende